Por medo de explosões, empresários recuam e pedem desativação.
Assessoria do Bradesco informou que vai repor caixas em setembro.
Posto de atendimento ficou destruído em Mulungu
(Foto: William Santos/G1)
Em cidades do interior da Paraíba, onde caixas eletrônicos foram explodidos, moradores estão viajando para cidades vizinhas para sacar dinheiro e ter acesso a outros serviços bancários. Isto porque muitas das cidades que se tornaram alvos dos bandidos não têm agências bancárias e os terminais de atendimento eram as únicas opções de saque.(Foto: William Santos/G1)
Um dos casos é do município de Mulungu, Agreste paraibano, onde os 9.469 moradores estão sem opção de saque há dois meses. O terminal eletrônico do banco Bradesco foi explodido duas vezes por assaltantes e não funciona desde o último ataque, ocorrido no dia 1º de julho. Segundo o morador Orlando Saturnino da Costa, proprietário de uma padaria, para sacar valores altos ele precisa viajar para cidades vizinhas, como Guarabira, que fica a uma hora de distância de carro.
Funcionária pública Maria Susana da Silva reclama de
falta de acesso a caixa (Foto: Jota Alves/G1)
A situação é semelhante em outra cidade próxima, Alagoinha. Para a funcionária pública Maria Susana da Silva Freire, a explosão do caixa dificultou sua vida.falta de acesso a caixa (Foto: Jota Alves/G1)
“Foi um choque muito grande. Antes, a gente tinha acesso à nossa conta a qualquer momento. Hoje fica difícil porque a gente tem que deslocar para Guarabira para fazer saque, consulta e depósito. Se a prefeitura deposita dinheiro na sexta-feira à noite, a gente tem que ir para Guarabira no sábado de manhã e enfrentar toda a movimentação da feira para poder ter acesso ao nosso pagamento”, comentou.
Com a bandidagem solta, a gente tem medo de sofrer assalto nessas viagens"
Elizabeth Barbosa, professora
A assessoria de imprensa do Bradesco em São Paulo informou ao G1 que o banco fará em setembro a reposição dos terminais citados na reportagem.
O caso mais recente de explosão aconteceu em São José da Lagoa Tapada, no Sertão, que teve seu único caixa eletrônico detonado com dinamites no dia 23 de agosto. Por telefone, a comerciária Maria dos Remédios Jerônimo disse que a opção é ir até Sousa ou procurar atendimento nos Correios.
Apesar da disponibilidade, ela reclamou que a agência só funciona até as 13h. Estão nesta situação 7.564 habitantes, conforme o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cidades polarizadas por Sousa e Guarabira ficaram
sem opção de atendimento bancário (Foto: Arte/G1)
Em Aparecida, cidade com população de 7.676, também no Sertão paraibano, o caixa foi explodido no dia 3 de agosto. Apesar do uso de dinamites, os assaltantes não conseguiram ter acesso ao compartimento onde o dinheiro era armazenado e acabaram fugindo sem nada. Mesmo assim, o aparelho teve que ser desativado.sem opção de atendimento bancário (Foto: Arte/G1)
No dia da ocorrência, um funcionário do banco informou à reportagem da TV Paraíba que o funcionamento deveria ser retomado dentro de 20 dias. Porém, o serviço ainda está em fase de conclusão.
Somente em 2011, foram registrados 64 ataques a instituições financeiras no estado, entre assaltos, explosões, arrombamentos e tentativas. Destes casos, 33 foram assaltos ou tentativas de arrombamento com uso de dinamites. Os dados foram levantados com base em ocorrências registradas pelas Polícia Militar e Civil.
Banco continua fechado depois de explosão ocorrida
em julho (Foto: Jota Alves/G1)
No primeiro semestre do ano, a Paraíba registrou 54 ocorrências em bancos e terminais de atendimento, ficando em 4º lugar no ranking nacional. À frente estavam os estados de São Paulo (com 283 casos), Bahia (61) e Paraná (56). A lista consta na 1ª Pesquisa Nacional de Ataques a Bancos, elaborada pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).em julho (Foto: Jota Alves/G1)
Empresas pedem desativação de caixas
Com medo de serem os próximos da lista, empresários e comerciantes de algumas cidades já solicitaram a desativação dos terminais de autoatendimento localizados nas dependências de seus estabelecimentos. Os pedidos são feitos às instituições bancárias responsáveis pelos caixas em questão. O número exato de pedidos foi requisitado pela reportagem, mas não foi revelado pelas assessorias de imprensa, nem pelas gerências regionais dos bancos procurados.
A assessoria de imprensa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também não forneceu detalhes, mas confirmou que a tendência existe principalmente em São Paulo e admitiu algumas solicitações feitas no Nordeste. A assessoria classificou a "onda de ataques aos terminais de autoatendimento no Brasil" como o principal motivo para as desistências.
Aparelho foi desativado em indústria na Paraíba
(Foto: Karoline Zilah/G1)
A indústria Dolomil, situada em Campina Grande, no Agreste paraibano, foi uma das primeiras a recuar em nome da segurança. Durante dez anos, foi disponibilizado um caixa de correspondente bancário em um dos prédios da fábrica para viabilizar o pagamento dos cerca de 350 funcionários. O caixa era abastecido todas as sextas-feiras, ocasiões em que os funcionários faziam saques direto de suas contas salariais, sem a necessidade de procurar bancos no Centro ou em outros bairros da cidade. A opção, segundo o empresário Marcelo Arruda, era mais segura.(Foto: Karoline Zilah/G1)
No entanto, de acordo com o sócio da indústria, ele precisou abrir mão da facilidade e resolveu desabastecer o caixa eletrônico, cancelando os saques. "Infelizmente, de dois meses para cá nós resolvemos eliminar o pagamento em espécie e o caixa fica somente para o fornecimento de extratos", revelou o empresário.
A decisão, conforme Marcelo,foi tomada quando ele avaliou os locais que serviram como alvos dos assaltantes. Não somente as agências bancárias estavam sendo invadidas e prejudicadas pelos explosivos, mas também pontos de comércio e instituições públicas, a exemplo do campus da Universidade Estadual da Paraíba, da Secretaria de Saúde de João Pessoa e da Casa da Cidadania, espaço onde o Governo do Estado oferece serviços do Detran, Procon e Sine, entre outros. Além deles, um shopping e uma unidade de supermercado de rede nacional também já haviam sido atacados.
A lista já chegou a ser apresentada pelos serviços de inteligência das instituições bancárias durante encontros do Conselho de Segurança Pública do Nordeste, quando se reúnem representantes das Polícias Militar, Civil, Federal, Rodoviária Federal, do Ministério da Justiça, dos bancos e das secretarias de defesa dos estados.
Operação da PM fiscaliza divisa entre o Ceará e a
Paraíba (Foto: Reprodução/TV Verdes Mares)
Ações de combateParaíba (Foto: Reprodução/TV Verdes Mares)
Os números do primeiro semestre mobilizaram as autoridades policiais dos estados do Nordeste. Com quadrilhas circulando por estradas do Sertão e do Agreste, além do pouco policiamento disponível nas cidades pequenas, as cúpulas da Segurança Pública da Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Piauí resolveram se unir para fechar as rotas de fuga.
Operações conjuntas foram deflagradas em agosto com fiscalizações e policiais especializados em detectar explosivos, além de cães farejadores em busca de drogas. Um helicóptero também foi utilizado para o monitoramento de plantações de maconha nas divisas dos estados.
De acordo com o coronel Paulo Almeida, da Polícia Militar da Paraíba, o objetivo é fechar as divisas para evitar o tráfico de drogas e interromper o trânsito de criminosos que planejam assaltar bancos. As informações que as polícias têm sobre as quadrilhas também são ‘cruzadas’ entre os estados, que nesta operação poderão saber quem atua nos crimes, onde eles se escondem e como agem.
Conforme a Secretaria Estadual de Segurança Pública, a Paraíba está entre os estados com maior número de prisões de assaltantes de banco no Nordeste. Mais de 60 pessoas foram presas pela polícia paraibana neste ano sob suspeita de participação em roubos a bancos e correspondentes bancários com uso de explosivos ou maçaricos.
Além da ação da segurança pública, os bancos investem anualmente cerca de R$ 9,2 bilhões em segurança. Os dados são da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Um dos métodos implantados para evitar as explosões em caixas é um dispositivo que mancha as notas de vermelho quando o aparelho é danificado. No entanto, de acordo com o Sindicato dos Bancários da Paraíba, a medida ainda não foi implantada localmente.
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