Postado às 16h21 po
A não ser que eu esteja entendendo errado, mas considero que está havendo uma distorção a respeito do quadro apresentado pelo Fantástico, no qual se analisou a reação das pessoas diante de um caso hipotético de racismo contra nordestinos. Aliás, diga-se rapidamente, uma reação sempre contundente contra o racismo.
Vou tentar ser telegráfico, a fim de atingir o máximo de clareza. Não acho que se deve atirar pedras no quadro feito pelo Fantástico. Ao contrário, considerei o quadro de extrema importância para algo que, infelizmente, faz parte do cotidiano brasileiro. O Fantástico não inventou nada. Fez uma simulação daquilo que, repito, lamentavelmente, se repete nas regiões sul e sudeste do Brasil. E ainda trouxe à tona uma reação heróica –essa sim real e não encenada por atores - de brasileiros em favor do Nordeste.
Dos pedidos que tenho recebido desde ontem para escrever algo sobre o tema, parece que as pessoas estão atirando no lugar errado. Ora, é como se, diante de um trote telefônico, você resolvesse colocar a culpa no telefone e não no autor do trote. O Fantástico não inventou o termo “Paraíba” e o texto a ser encenada pela atriz. Procurou apenas ser fiel aquilo que, absurdamente, se vê por aí, para daí causar indignação e revolta contra quem age daquela forma na vida real.
Acredito que qualquer preconceituoso imbecil que tenha assistido ao programa de ontem saiu de casa hoje mais cauteloso em cometer um crime de racismo.
O que se deve ser atacado ainda é a forma preconceituosa com que o Nordeste e o nordestino são vistos no Brasil. Pra provocar revoltar, o quadro tentou reproduzir cenas que, certamente, acontecem. Quando o mesmo quadro colocou uma atriz representando uma mãe e chamando a filha de gorda, ninguém que o Fantástico estava contra as gordas. O simulacro de uma realidade não pode ser mais culpado do que a própria realidade.
Se for pra atacar o Fantástico, a Globo ou quem quer que seja que não seja pelo quadro exibido ontem. Mas sim pela forma indireta de preconceito que, na verdade, todos os grandes veículos brasileiros tratam o nordeste, quando colocam atores nordestinos para ocupar papéis sempre do menor escalão intelectual ou social, quando obriga seus comunicadores nordestinos a modularem o sotaque para “disfarçar” suas origens ou até mesmo quando preferem focar nas desgraças da região do que nos avanços.
Não por ontem.
O termo “Paraíba” pra designar nordestino é antigo e pejorativo unicamente quando é usado quando alguém quer chamar o outro de inferior ou incapaz. Nasci do Maranhão e sou Paraíba. Com orgulho que supera qualquer a imbecilidade de qualquer um que se ache melhor porque nasceu numa terra que não deu Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna, Assis Chateabriand, Celso Furtado, Epitácio Pessoa, Pedro Américo, José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Zé Ramalho e tantos outros grandes vultos, sejam eles das artes, ciência ou política, deste Brasil.
Luiz Torres
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