A
descoberta de medicamentos mais eficientes e baratos para tratamento do
câncer pode vir de uma fruta típica da região Nordeste, o caju. Foi o
que demonstrou a dissertação de mestrado do químico Wellington Alves
Gonzaga, defendida na Faculdade de Ciências da Saúde (FS) da
Universidade de Brasília (UnB), sob orientação da professora Maria
Lucilia dos Santos.
Gonzaga
sintetizou moléculas a partir do óleo encontrado na castanha, que
geralmente é descartado pelas indústrias após a torrefação ou vendido
para empresas no exterior a preços irrisórios. Das quatro substâncias
que compõem o líquido, ele se deteve em duas, o ácido anacárdico e o
cardanol.
Esses componentes e
seus derivados foram avaliados quanto ao potencial de ação na morte de
linhagens de células tumorais. Cinco substâncias se mostraram mais
efetivas em relação ao câncer de boca e, outras cinco, quanto ao câncer
de mama. Desses dez compostos, sete apresentaram atividade em 24 horas
e, as demais, em 48 horas.
“O
espectro de fármacos que podem ser feitos é muito grande. Como o caju é
abundante e barato, os preços poderiam ser mais acessíveis”, afirma o
pesquisador, que desenvolveu parte das pesquisas no Instituto de
Química e parte no Laboratório de Farmacologia Molecular, da Faculdade
de Ciências da Saúde.
Essa
redução de valor, ainda sem condições de ser dimensionada, beneficiaria
principalmente a população de baixa renda, que depende da rede pública
de saúde para adquirir remédios de alto custo. Um medicamento contra
tumor de mama aprovado recentemente para comercialização no Brasil, por
exemplo, custa cerca de R$ 4.500, valor correspondente a um caixa para
14 dias de tratamento.
REAÇÕES
A
idéia de chegar a um produto final a partir do caju precisa percorrer
um longo trajeto e depende de novas pesquisas em torno dos dados já
alcançados. Mesmo assim, o caminho já foi aberto e deve prosseguir.
“Vamos repetir os testes devido à relevância das informações”, afirma o
químico. Essa etapa deve ter o apoio da professora Andréa Barretto
Motoyama, do Curso de Ciências Farmacêuticas, que participou dessa fase
do estudo.
Vencida essa fase,
haverá análises de toxidade e da ação em relação às células sadias do
corpo. Quanto menor a interferência nelas, menores as chances de que um
possível medicamento cause reações adversas. “Precisamos de mais
estudos para conhecer o mecanismo de ação das moléculas”, diz.
Gonzaga
defende a elevação de investimentos no setor para que as universidades
possam cumprir com mais propriedade seu papel de levar benefícios para
a sociedade. “Se o Brasil incentivasse mais a pesquisa, teríamos muita
produção de ponta”, afirma. O químico pretende, agora, continuar os
estudos no doutorado com a análise do óleo da castanha do caju para a
produção de protetores solares.
O
caju, além de ser fonte de vitamina C na alimentação, tem se mostrado
uma excelente fonte de pesquisa para a área farmacêutica. A literatura
registra ação antiinflamatória, antioxidante, aplicações em terapias
contra excesso de peso, úlcera e até impotência sexual a partir de
moléculas naturais ou sintéticas. Um outro estudo do grupo feito na UnB
também demonstrou propriedades fotoprotetoras, o que levou à
solicitação de patente em conjunto com os parceiros do estudo, a
Universidade Católica de Brasília (UCB) e a Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). A pesquisa recebeu, em 2004, o prêmio especial do
Congresso Brasileiro de Cosmetologia.
Embora
os cajueiros sejam uma constante na paisagem cearense, o maior
produtor de castanha de caju é a Índia. A árvore é encontrada, ainda,
em países de clima tropical, como Moçambique, Quênia, Vietnã, Guiné e
Tanzânia.
CURIOSIDADE
As substâncias bioativas derivadas do óleo da casca da castanha do caju são, em geral, produzidas por meio de processos envolvendo modificação química dos seus componentes naturais.
As substâncias bioativas derivadas do óleo da casca da castanha do caju são, em geral, produzidas por meio de processos envolvendo modificação química dos seus componentes naturais.
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