sábado, 21 de abril de 2012

NONATO NUNES - Cacófatos nada sociáveis


Artigo:


Meu pai costumava contar um exemplo curioso de cacófato em que a mistura sonora de duas palavras formaria uma frase bem divertida, embora nada sociável. Contou ele que certa vez um velho conhecido, ao elogiar a qualidade e o gosto do café feito por uma distinta senhora, teria dito o seguinte: “Comadre, imagino esse seu café com aquele pano de coar dentro.” Observe que tal junção de palavras formou uma sonoridade marginal, a qual deu um novo significado ao conjunto. Isso se deu pelo fato de o nordestino, no caso do verbo “coar”, pronunciar o fonema /o/ com som de /u/. E aí... Essa figura de linguagem também tem sido, em alguns casos, motivo para que muitos engraçadinhos façam piadinhas, muitas delas de muito mau gosto. No caso acima a composição frasal citada deu-se em decorrência daquilo que se poderia chamar de “incidente vocabular” em que o autor, involuntariamente, acaba por criar uma terceira opção sonora. No caso acima, bem “atrevida”.
Em uma dessas músicas apelativas o autor da letra usou a cacofonia (a sonoridade como efeito pejorativo) para passar a mensagem pornofônica que queria transmitir. Assim um trecho da letra diz: “Dai álcool pra ele. Dai álcool pra ele cheirar.” Observe o caro leitornauta que o substantivo “álcool” entra numa composição propositadamente feita para gerar pornofonia. Claro, uma censurazinha não seria nada demais para esses casos específicos. Também tem uma do alemão que não sabia usar corretamente os artigos definido e indefinido. Habituado a trocar o [o] pelo [a] alguém o advertiu de que nas palavras femininas usa-se o artigo definido “a” e nas masculinas o “o”. Eis que certa vez esse mesmo alemão teria visto um menino pronunciar a seguinte frase: “Acuda mãe!” O alemão imediatamente fez a “correção”: “Não ser ‘acuda mãe’, mas ‘ocuda mãe’”. Coitado, entendeu tudo errado!
São casos engraçados de cacófatos (cacofônicos e/ou cacográficos) em que voluntária ou involuntariamente o sujeito termina por cometer gafes e “pagar micos” sem sequer se dar conta do quão engraçadas podem ser as palavras quando usadas de maneira incorretas. Mas fique certo o caro leitornauta que gafes todos cometemos. O editor de uma revista de João Pessoa por pouco não pôs para impressão o seguinte título de capa: “O boom da construção civil.” Veja que bela junção de palavras! Ainda bem que ele percebeu o erro a tempo de corrigir mais essa “peça” pregada por nossa língua.
Por fim podemos “presentear” o caro leitornauta com mais algumas “pérolas” da língua portuguesa:
Pagou vinte reais por cada camisa.
O bolo ficou ruim devido à má mão dela.
Lá tinha de tudo.
Triste alma minha.
A boca dela é enorme.
Vou-me já.
Portanto, é bom nos policiarmos quanto ao uso das palavras. Caso contrário...
Um abraço e até a próxima.
Jornalista, documentarista, articulista do Fato a Fato e escritor

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