Transformar
os seguidores do twitter e ‘amigos virtuais’ das redes sociais em
potenciais eleitores e, principalmente, multiplicadores de seus
projetos, é um desafio para os políticos na atualidade. A internet
invadiu de vez o cotidiano político paraibano e alguns vereadores da
Capital acumulam hoje mais seguidores no twitter ou amigos no Facebook
do que a quantidade de votos recebidos nas eleições de 2008, o que já
lhe garantiriam a vitória. Mas para o doutor em Teoria Política, Jaldes
Menezes, eles precisam saber o que escrever para não banalizar o
discurso e afastar os possíveis votos nas eleições de 2012.
“As redes sociais não são um instrumento de uso simples. Da parte do
político, é preciso conhecimento do novo meio, sob pena dos esforços de
aproximação através das redes até reverterem em efeito contrário.
Antes de tudo, é preciso escolher claramente o público a quem dirigir a
mensagem e o que dizer, em clima de intercâmbio e interação. Mensagens
genéricas ou insistentes tendem a antipatizar o candidato”, alertou o
também professor do curso de História da Universidade Federal da
Paraíba, Jaldes Menezes.
Alguns políticos parecem já ter conseguido identificar o que
interessa aos demais usuários das redes sociais e Twitter. Exemplos
disso são Cássio Cunha Lima, o político paraibano com maior número de
seguidores no microblog, com 47.338 pessoas e o governador Ricardo
Coutinho, com 36.728 seguidores. Nas eleições de 2012, eles foram os
que mais fizeram uso das 140 letras disponíveis no Twitter para
escrever pequenas frases de efeito e conseguiram atingir um maior
número de internautas, que possivelmente, se tornaram seus eleitores.
Além disso, disponibilizaram vídeos e promoveram o debate junto aos
usuários, o que garante ao internauta sentir-se valorizado.
Mas os usos das redes sociais e do microblog pelos políticos tem sido
dos mais variados tipos, indo desde as propostas de governo e
comentários sobre atuação parlamentar a críticas a gestões e decisões
políticas. Eles também utilizam para tecer comentários sobre futebol e
pregações religiosas. O vereador Bruno Farias explica o porquê deste uso
tão abrangente.
“Uso para expor fatos do meu dia-a-dia. Mas como o meu cotidiano é
vivido em um ambiente político, muitas das minhas participações têm
conteúdo de natureza política”, afirmou.
E nos perfis ficam claras as posições políticas, ideologias,
interesses partidários e opiniões pessoais. No twitter de Sandra
Marrocos, por exemplo, pode-se identificar sua bandeira de lutas
relacionada com os direitos da mulher na sociedade. Enquanto isso, no
twitter da vereadora Raissa Lacerda, a religião, sua relação com os
filhos e a paixão pelo time de futebol Botafogo são as primeiras
impressões tiradas.
De acordo com Jaldes Menezes, acertam os políticos que, ao
identificarem que sua base eleitoral é baseada em católicos,
evangélicos, ou qualquer outra religião, torcedores fanáticos, classes
sociais específicas, ou segmentos da sociedade e direcionam suas
‘tuitadas’ para estes grupos. “Obrigatoriamente ele terá de postar
sobre esses assuntos”, afirmou.
No entanto, o uso direcionado pode não agradar no caso dos políticos
que possuem um eleitorado mais plural, sob o risco de estes se sentirem
deslocados dos interesses e bandeiras defendidas. “É preciso analisar
bem se as opiniões polêmicas acrescentam ou podem dividir o
eleitorado”, disse Jaldes, deixando clara a interferência que a
internet causa nos seus usuários.
Contato com usuários deve ter frequência e naturalidade
O político que se propõe a criar um perfil no Twitter, Facebook ou
qualquer outra rede social, deve assumir com isso um compromisso, de ser
frequente no acesso e não deixar para terceiros, a obrigação de
escrever, se passando por ele. Segundo Jaldes Menezes, é importante
ainda que o uso seja com conteúdo, já que a rede é muito ágil, dinâmica
e, caso muita informação seja dada ao mesmo tempo, ela não será
digerida.
“Nada artificializado pode dar certo. O ideal é que o político
parlamentar faça ele mesmo o uso pessoal das redes. Terceirizar pode ser
perigoso, a não ser que a pessoa designada para esta tarefa tenha
perfeito domínio do pensamento do político, bem como as estratégias da
campanha. Sendo o próprio candidato, a mensagem se torna mais humana. As
coisas terceirizadas são facilmente detectadas pelos usuários”,
afirmou Jaldes Menezes.
“São vários os conteúdos que podem ser postados nas redes, Não há
regra à priori. O principal é saber dirigir a mensagem certa ao público
que se quer atingir. O uso esporádico denota inexperiência no domínio
da tecnologia das redes ou uma estratégia de aproximação aleatória e
pouco sistemática. O ideal é fazer, ao menos, um uso diário”, afirmou.
“É imperativo usar a rede”
Jaldes Menezes afirmou que os políticos não podem imaginar que todos
os seus seguidores são, de imediato, votos garantidos nas urnas. Mas
essa já é uma primeira aproximação, que pode se reverter em voto. “O
Twitter é um instrumento multifacético. Tem diversos usos políticos,
desde a propagação de notícias e estratégias no bojo de uma campanha
eleitoral. Mas não se trata, embora seja fundamental, de angariar
votos”, disse.
No entanto, segundo ele, o candidato que não utiliza das redes
sociais terá pouca vantagem frente aos mais ‘moderninhos’. “As redes
sociais são uma realidade e vieram para ficar. Contudo, elas ainda não
abarcam o escopo do sistema político. Os candidatos de eleitorado
localizado, antigo, que ainda não fazem uso da rede vão ter pouca
vantagem. Hoje é imperativo entrar na rede. Quem não entrar, vai perder
um espaço de intercâmbio, de diálogo, de levantar questões, propostas,
e traçar estratégias da campanha. As redes sociais vão ficar banais e,
por isso, quem fizer melhor uso, quem tiver maior criação, vai tender a
ocupar melhor esses espaços”, garantiu.
E para ele, quanto mais profissionalizada for a estratégia do
político, em se tratando de redes sociais, melhores serão os
resultados. “Com a crescente universalização da Internet, o tipo de
candidato e eleitor que não a utiliza tende ao desaparecimento. Nas
campanhas majoritárias, hoje, o bom uso das redes sociais e a
contratação de um profissional especializado nas estratégias de rede
são obrigatórios”, assegurou.
Milanez: internet não ajuda
“Não vejo que a Internet seja, no Brasil, muito menos no Nordeste, um
instrumento para eleger um candidato. Pode até ampliar em um segmento.
Mas quem elege o político são os pobres, os menos favorecidos e eles
não têm acesso a isso ainda’, afirmou o vereador Fernando Milanez
(PMDB), na contramão da maioria dos políticos neste quesito. Ele não
possui perfil no Twitter ou Facebook. Segundo Milanez, a Internet e
consequentemente as redes sociais ainda não são uma realidade para a
maioria da população e, por isso, apresentam pouca interferência nas
eleições. “Depende muito da geração. Cássio e Ricardo gostam e
utilizam. Mas meu amigo e ex-governador José Maranhão não gosta”,
afirmou.
“Em uma população em que é negado saúde e educação, você acha que as
pessoas vão tuitar? Isso atinge poucas pessoas. Apenas eleitores mais
esclarecidos que utilizam. E estes estão totalmente desmotivados. Quando
se acaba uma eleição, eles não sabem nem em quem votaram. Então eu
acho que é uma ferramenta importante para determinado grupo. Aqui é
diferente dos Estados Unidos, que são super informatizados. Aqui, no
mínimo uns 10 anos ainda para que a Internet seja importante nas
eleições”, declarou.
Bira atende as solicitações
O vereador Bira (PSB) afirmou que não utiliza o twitter e facebook
vislumbrando os seguidores como potenciais eleitores. Segundo ele, as
redes sociais têm contribuído para a divulgação dos projetos do seu
mandato e do partido na Câmara de Vereadores e também para atender aos
seguidores. Segundo ele, a população tem utilizado mais das redes
sociais para reclamar e fazer pedidos. “Várias solicitações foram
encaminhadas e se transformaram em requerimentos. A internet tem se
mostrado uma ferramenta poderosíssima neste sentido”, disse.
Segundo ele, a publicização das ações é o principal motivo de sua
utilização, além de também ser útil para informar sua agenda, e
expressar suas opiniões. “Não vejo meus seguidores no Twitter como
potenciais eleitores. Na verdade, nós como detentores de mandato
precisamos informar nossas ações independente de eles aderirem ou não à
nossa campanha, nosso projeto”, afirmou.
Bira explicou que a principal vantagem do uso das redes sociais é que
a velocidade das informações na rede virtual contribui para que elas
cheguem mais rápido na população e de formas mais variadas. “A
transmissão da informação atinge uma grande velocidade que as mídias
comuns não atingem. Por isso, é importante nos preocuparmos com elas”,
disse.
Raissa tem cinco mil amigos
A vereadora Raissa Lacerda (PSD) afirmou que vê as redes sociais como
um espaço “maravilhoso” para divulgar suas ações e projetos políticos.
Segundo ela, apesar de não utilizar o Twitter com tanta frequência, no
Facebook ela escreve e entra em contato com os usuários diariamente.
De fato, a página dela no twitter tem 3.168 amigos enquanto o perfil no
Facebook já soma cinco mil amigos, já próximo da quantidade de votos
obtidos por ela na última eleição, que foi de 5.673.
“Depois que abri o meu facebook, passo mais tempo nele. Uso toda
noite para dialogar com as pessoas, ouvir suas ideias, divulgo
audiências públicas e as pessoas marcam contato pessoal comigo. É muito
importante que as pessoas públicas sejam usuárias das redes sociais”,
afirmou.
Segundo Raissa, é importante que o político tenha cautela em seu
contato com os usuários, para que todos possam ser atendidos e não
deixar ninguém sem resposta. “Sou apaixonada pelo bate-papo porque ele
me aproxima da população. E a partir dele faço vários amigos, que
marcam e vão conhecer o meu gabinete, levam reivindicações e sugestões
de projetos”, afirmou.
“Vejo os seguidores no Twitter e amigos no Facebook com muito
respeito. Vejo como verdadeiros amigos, mas que com o passar do tempo,
podem se tornar eleitores. Como sou mulher, sou mais sensível e por
isso vejo eles como amigos, mas naturalmente não deixo de ver que
naturalmente, muitos já são eleitores”, declarou.
Raissa Lacerda disse ainda que não deixaria que um assessor
utilizasse suas contas nas redes sociais, escrevendo por ela. “Isso é
desrespeitoso. Quem escreve sou eu mesmo. O político tem que ter
respeito, ser ele próprio, para permitir que se construam amizades. O
meu gabinete fica repleto de amigos do Facebook”, disse.
Apesar de utilizar as redes sociais com bastante frequência, Raissa
afirma que ainda não pensa em seu uso com vistas as eleições de 2012.
“Não pensei ainda no que pode ser feito na Internet em 2012 na
divulgação da campanha. Continuo usando naturalmente, mas é óbvio que
irei pensar em como usar, verei claro, o que a legislação permite e aí
irei sim, vou usar”, garantiu.
Bruno quer contato direto
O vereador Bruno Farias (PPS) afirmou que possui dois perfis no
Twitter, além de também estar presente no facebook. Segundo ele, um dos
perfis do Twitter é utilizado de seu gabinete por seus assessores, mas
o segundo perfil, que possui mais usuários, é utilizado apenas por
ele. “Acho muito importante porque é uma ferramenta que permite a
comunicação direta, a troca de ideias e o contato com as mais variadas
correntes de pensamento e estabelece uma via direta de prestação de
contas da atuação parlamentar”, afirmou.
Para Bruno Farias, sua utilização não é orquestrada pelo interesse de
atrair um maior número de eleitores, vendo em cada seguidor um
potencial voto. “Não utilizo as redes sociais com este pensamento. Mas
sim como uma forma de exposição. Acho que isso é uma contingência
natural do mundo moderno e eu, como um jovem inserido nessa realidade,
tenho que acompanhar estes avanços”, disse.
Mas, mesmo com a intenção de se candidatar à reeleição em 2012 à
Câmara de Vereadores, Bruno afirmou que ainda não planeja nenhuma ação
voltada para as redes sociais.
Fique Ligado!
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não constam
atividades mais no calendário eleitoral neste ano. No entanto, 2012
será de intensas movimentações até o dia das eleições, 07 de Outubro.
Entre as datas mais importantes, os eleitores devem ficar atentos que
eles têm até o dia 09 de maio para requerer inscrição eleitoral ou
transferência de domicílio. Em junho, os partidos já estarão em
intensas atividades e entre os dias 10 e 30, poderão realizar
convenções para escolher os candidatos ao pleito. Em 21 de agosto e até
04 de outubro, as propagandas serão permitidas no rádio e na
televisão.
Do Jornal Correio
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