domingo, 23 de outubro de 2011

De olho em 2012: Políticos usam Internet para garantir voto

redes_sociais1Transformar os seguidores do twitter e ‘amigos virtuais’ das redes sociais em potenciais eleitores e, principalmente, multiplicadores de seus projetos, é um desafio para os políticos na atualidade. A internet invadiu de vez o cotidiano político paraibano e alguns vereadores da Capital acumulam hoje mais seguidores no twitter ou amigos no Facebook do que a quantidade de votos recebidos nas eleições de 2008, o que já lhe garantiriam a vitória. Mas para o doutor em Teoria Política, Jaldes Menezes, eles precisam saber o que escrever para não banalizar o discurso e afastar os possíveis votos nas eleições de 2012.
“As redes sociais não são um instrumento de uso simples. Da parte do político, é preciso conhecimento do novo meio, sob pena dos esforços de aproximação através das redes até reverterem em efeito contrário. Antes de tudo, é preciso escolher claramente o público a quem dirigir a mensagem e o que dizer, em clima de intercâmbio e interação. Mensagens genéricas ou insistentes tendem a antipatizar o candidato”, alertou o também professor do curso de História da Universidade Federal da Paraíba, Jaldes Menezes.
Alguns políticos parecem já ter conseguido identificar o que interessa aos demais usuários das redes sociais e Twitter. Exemplos disso são Cássio Cunha Lima, o político paraibano com maior número de seguidores no microblog, com 47.338 pessoas e o governador Ricardo Coutinho, com 36.728 seguidores. Nas eleições de 2012, eles foram os que mais fizeram uso das 140 letras disponíveis no Twitter para escrever pequenas frases de efeito e conseguiram atingir um maior número de internautas, que possivelmente, se tornaram seus eleitores. Além disso, disponibilizaram vídeos e promoveram o debate junto aos usuários, o que garante ao internauta sentir-se valorizado.
Mas os usos das redes sociais e do microblog pelos políticos tem sido dos mais variados tipos, indo desde as propostas de governo e comentários sobre atuação parlamentar a críticas a gestões e decisões políticas. Eles também utilizam para tecer comentários sobre futebol e pregações religiosas. O vereador Bruno Farias explica o porquê deste uso tão abrangente.
“Uso para expor fatos do meu dia-a-dia. Mas como o meu cotidiano é vivido em um ambiente político, muitas das minhas participações têm conteúdo de natureza política”, afirmou.
E nos perfis ficam claras as posições políticas, ideologias, interesses partidários e opiniões pessoais. No twitter de Sandra Marrocos, por exemplo, pode-se identificar sua bandeira de lutas relacionada com os direitos da mulher na sociedade. Enquanto isso, no twitter da vereadora Raissa Lacerda, a religião, sua relação com os filhos e a paixão pelo time de futebol Botafogo são as primeiras impressões tiradas.
De acordo com Jaldes Menezes, acertam os políticos que, ao identificarem que sua base eleitoral é baseada em católicos, evangélicos, ou qualquer outra religião, torcedores fanáticos, classes sociais específicas, ou segmentos da sociedade e direcionam suas ‘tuitadas’ para estes grupos. “Obrigatoriamente ele terá de postar sobre esses assuntos”, afirmou.
No entanto, o uso direcionado pode não agradar no caso dos políticos que possuem um eleitorado mais plural, sob o risco de estes se sentirem deslocados dos interesses e bandeiras defendidas. “É preciso analisar bem se as opiniões polêmicas acrescentam ou podem dividir o eleitorado”, disse Jaldes, deixando clara a interferência que a internet causa nos seus usuários.
Contato com usuários deve ter frequência e naturalidade
O político que se propõe a criar um perfil no Twitter, Facebook ou qualquer outra rede social, deve assumir com isso um compromisso, de ser frequente no acesso e não deixar para terceiros, a obrigação de escrever, se passando por ele. Segundo Jaldes Menezes, é importante ainda que o uso seja com conteúdo, já que a rede é muito ágil, dinâmica e, caso muita informação seja dada ao mesmo tempo, ela não será digerida.
“Nada artificializado pode dar certo. O ideal é que o político parlamentar faça ele mesmo o uso pessoal das redes. Terceirizar pode ser perigoso, a não ser que a pessoa designada para esta tarefa tenha perfeito domínio do pensamento do político, bem como as estratégias da campanha. Sendo o próprio candidato, a mensagem se torna mais humana. As coisas terceirizadas são facilmente detectadas pelos usuários”, afirmou Jaldes Menezes.
“São vários os conteúdos que podem ser postados nas redes, Não há regra à priori. O principal é saber dirigir a mensagem certa ao público que se quer atingir. O uso esporádico denota inexperiência no domínio da tecnologia das redes ou uma estratégia de aproximação aleatória e pouco sistemática. O ideal é fazer, ao menos, um uso diário”, afirmou.
“É imperativo usar a rede”
Jaldes Menezes afirmou que os políticos não podem imaginar que todos os seus seguidores são, de imediato, votos garantidos nas urnas. Mas essa já é uma primeira aproximação, que pode se reverter em voto. “O Twitter é um instrumento multifacético. Tem diversos usos políticos, desde a propagação de notícias e estratégias no bojo de uma campanha eleitoral. Mas não se trata, embora seja fundamental, de angariar votos”, disse.
No entanto, segundo ele, o candidato que não utiliza das redes sociais terá pouca vantagem frente aos mais ‘moderninhos’. “As redes sociais são uma realidade e vieram para ficar. Contudo, elas ainda não abarcam o escopo do sistema político. Os candidatos de eleitorado localizado, antigo, que ainda não fazem uso da rede vão ter pouca vantagem. Hoje é imperativo entrar na rede. Quem não entrar, vai perder um espaço de intercâmbio, de diálogo, de levantar questões, propostas, e traçar estratégias da campanha. As redes sociais vão ficar banais e, por isso, quem fizer melhor uso, quem tiver maior criação, vai tender a ocupar melhor esses espaços”, garantiu.
E para ele, quanto mais profissionalizada for a estratégia do político, em se tratando de redes sociais, melhores serão os resultados. “Com a crescente universalização da Internet, o tipo de candidato e eleitor que não a utiliza tende ao desaparecimento. Nas campanhas majoritárias, hoje, o bom uso das redes sociais e a contratação de um profissional especializado nas estratégias de rede são obrigatórios”, assegurou.
Milanez: internet não ajuda
“Não vejo que a Internet seja, no Brasil, muito menos no Nordeste, um instrumento para eleger um candidato. Pode até ampliar em um segmento. Mas quem elege o político são os pobres, os menos favorecidos e eles não têm acesso a isso ainda’, afirmou o vereador Fernando Milanez (PMDB), na contramão da maioria dos políticos neste quesito. Ele não possui perfil no Twitter ou Facebook. Segundo Milanez, a Internet e consequentemente as redes sociais ainda não são uma realidade para a maioria da população e, por isso, apresentam pouca interferência nas eleições. “Depende muito da geração. Cássio e Ricardo gostam e utilizam. Mas meu amigo e ex-governador José Maranhão não gosta”, afirmou.
“Em uma população em que é negado saúde e educação, você acha que as pessoas vão tuitar? Isso atinge poucas pessoas. Apenas eleitores mais esclarecidos que utilizam. E estes estão totalmente desmotivados. Quando se acaba uma eleição, eles não sabem nem em quem votaram. Então eu acho que é uma ferramenta importante para determinado grupo. Aqui é diferente dos Estados Unidos, que são super informatizados. Aqui, no mínimo uns 10 anos ainda para que a Internet seja importante nas eleições”, declarou.
Bira atende as solicitações
O vereador Bira (PSB) afirmou que não utiliza o twitter e facebook vislumbrando os seguidores como potenciais eleitores. Segundo ele, as redes sociais têm contribuído para a divulgação dos projetos do seu mandato e do partido na Câmara de Vereadores e também para atender aos seguidores. Segundo ele, a população tem utilizado mais das redes sociais para reclamar e fazer pedidos. “Várias solicitações foram encaminhadas e se transformaram em requerimentos. A internet tem se mostrado uma ferramenta poderosíssima neste sentido”, disse.
Segundo ele, a publicização das ações é o principal motivo de sua utilização, além de também ser útil para informar sua agenda, e expressar suas opiniões. “Não vejo meus seguidores no Twitter como potenciais eleitores. Na verdade, nós como detentores de mandato precisamos informar nossas ações independente de eles aderirem ou não à nossa campanha, nosso projeto”, afirmou.
Bira explicou que a principal vantagem do uso das redes sociais é que a velocidade das informações na rede virtual contribui para que elas cheguem mais rápido na população e de formas mais variadas. “A transmissão da informação atinge uma grande velocidade que as mídias comuns não atingem. Por isso, é importante nos preocuparmos com elas”, disse.
Raissa tem cinco mil amigos
A vereadora Raissa Lacerda (PSD) afirmou que vê as redes sociais como um espaço “maravilhoso” para divulgar suas ações e projetos políticos. Segundo ela, apesar de não utilizar o Twitter com tanta frequência, no Facebook ela escreve e entra em contato com os usuários diariamente. De fato, a página dela no twitter tem 3.168 amigos enquanto o perfil no Facebook já soma cinco mil amigos, já próximo da quantidade de votos obtidos por ela na última eleição, que foi de 5.673.
“Depois que abri o meu facebook, passo mais tempo nele. Uso toda noite para dialogar com as pessoas, ouvir suas ideias, divulgo audiências públicas e as pessoas marcam contato pessoal comigo. É muito importante que as pessoas públicas sejam usuárias das redes sociais”, afirmou.
Segundo Raissa, é importante que o político tenha cautela em seu contato com os usuários, para que todos possam ser atendidos e não deixar ninguém sem resposta. “Sou apaixonada pelo bate-papo porque ele me aproxima da população. E a partir dele faço vários amigos, que marcam e vão conhecer o meu gabinete, levam reivindicações e sugestões de projetos”, afirmou.
“Vejo os seguidores no Twitter e amigos no Facebook com muito respeito. Vejo como verdadeiros amigos, mas que com o passar do tempo, podem se tornar eleitores. Como sou mulher, sou mais sensível e por isso vejo eles como amigos, mas naturalmente não deixo de ver que naturalmente, muitos já são eleitores”, declarou.
Raissa Lacerda disse ainda que não deixaria que um assessor utilizasse suas contas nas redes sociais, escrevendo por ela. “Isso é desrespeitoso. Quem escreve sou eu mesmo. O político tem que ter respeito, ser ele próprio, para permitir que se construam amizades. O meu gabinete fica repleto de amigos do Facebook”, disse.
Apesar de utilizar as redes sociais com bastante frequência, Raissa afirma que ainda não pensa em seu uso com vistas as eleições de 2012. “Não pensei ainda no que pode ser feito na Internet em 2012 na divulgação da campanha. Continuo usando naturalmente, mas é óbvio que irei pensar em como usar, verei claro, o que a legislação permite e aí irei sim, vou usar”, garantiu.
Bruno quer contato direto
O vereador Bruno Farias (PPS) afirmou que possui dois perfis no Twitter, além de também estar presente no facebook. Segundo ele, um dos perfis do Twitter é utilizado de seu gabinete por seus assessores, mas o segundo perfil, que possui mais usuários, é utilizado apenas por ele. “Acho muito importante porque é uma ferramenta que permite a comunicação direta, a troca de ideias e o contato com as mais variadas correntes de pensamento e estabelece uma via direta de prestação de contas da atuação parlamentar”, afirmou.
Para Bruno Farias, sua utilização não é orquestrada pelo interesse de atrair um maior número de eleitores, vendo em cada seguidor um potencial voto. “Não utilizo as redes sociais com este pensamento. Mas sim como uma forma de exposição. Acho que isso é uma contingência natural do mundo moderno e eu, como um jovem inserido nessa realidade, tenho que acompanhar estes avanços”, disse.
Mas, mesmo com a intenção de se candidatar à reeleição em 2012 à Câmara de Vereadores, Bruno afirmou que ainda não planeja nenhuma ação voltada para as redes sociais.
Fique Ligado!
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não constam atividades mais no calendário eleitoral neste ano. No entanto, 2012 será de intensas movimentações até o dia das eleições, 07 de Outubro. Entre as datas mais importantes, os eleitores devem ficar atentos que eles têm até o dia 09 de maio para requerer inscrição eleitoral ou transferência de domicílio. Em junho, os partidos já estarão em intensas atividades e entre os dias 10 e 30, poderão realizar convenções para escolher os candidatos ao pleito. Em 21 de agosto e até 04 de outubro, as propagandas serão permitidas no rádio e na televisão.
Do Jornal Correio

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