Os mais recentes dados sobre o Sistema Cantareira começam a desenhar um cenário bastante agonizante. Com menos de 20% da sua capacidade, o Sistema fez acender tardiamente o sinal de alerta, próximo do emergencial. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP – já fala abertamente em caso de gravidade com a possível aproximação dos níveis de apenas 14% de sua capacidade.
A situação do Sistema é grave por uma razão banal. O Diretor Metropolitano da SABESP, Paulo Massato, afirmou no ano passado que o Sistema Cantareira teria sérias dificuldades em manter o abastecimento da região da grande São Paulo caso chegasse a 14% por um simples motivo: a gravidade.
O complexo sistema de túneis que leva água da Cantareira à Estação de Tratamento de Guaraú depende meramente da simples Lei da Gravidade, velho fenômeno natural de atração de corpos. A água situada acima – Cantareira – desce por gravidade para a Região Metropolitana para abastecer a população. Até meados do século XIX a água era transportada em potes de barro – cântaros – através de burros de cargas para fornecimento da incipiente cidade de São Paulo. Daí o nome da Serra ao norte da Cidade: Cantareira.
Com a redução para os perigosos níveis de 14% da capacidade, o Sistema Cantareira perde a dinâmica “água morro abaixo”, ficando a água em situação estática nas represas. Os técnicos e membros do Comitê da bacia hidrográfica da região dos rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari apontam para o risco deste fenômeno jamais ocorrido desde a inauguração do Sistema, o chamado volume morto. Volume morto é simplesmente a falta de movimentação de água entre represas.
O risco está na baixa quantidade de água e na necessidade de sucção do nível residual de água. Ao bombear o residual do Sistema perde-se em qualidade (excesso de sedimentos e materiais orgânicos) e coloca-se ainda mais em risco a combalida Cantareira. Reestabelecer o Sistema somente apostando num inverno altamente úmido com chuvas torrenciais, algo pouco comum no Sudeste.
Se, no passado, gravidade para a SABESP eram os níveis de 20% da capacidade, hoje se opera em condições abaixo dos níveis do agreste nordestino. Nunca antes na história da gestão do Sistema Cantareira a SABESP se deparou com o cobertor tão curto. Com pouca margem de remanejamento, outros sistemas começam a apontar para o esgotamento, como o Alto Tietê, Cotia e Guarapiranga, que operam no limite.
Bombardear nuvens está mais para o desespero dos operadores da SABESP do que para solução técnica eficaz. O verão de 2014 começa a caminhar rumo ao outono com péssima notícia: chuva irrisória aliada à velha prática de adotar medidas paliativas apenas quando a falência bate a porta.
Não há mais margem para erro. Chegou-se ao limite do Sistema Cantareira. A Lei da gravidade e a estiagem do verão somadas ao sucateamento da maior operadora de água e esgoto do País pode resultar num cenário que jamais imaginamos: a seca como ela é.
A gravidade maior é a incompetência da gestão dos recursos hídricos. Fossem os acionistas do capital aberto da SABESP operadores da ciranda financeira, a Banca iria a falência. Quando o assunto é segurança hídrica para 9 milhões de habitantes os especuladores brincam com fogo quando o assunto é água. Se depender dos acionistas da Banca da Sabesp o paulistano pode preparar-se para voltar aos cântaros. Água não é mercadoria.
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