O governo federal convocou uma reunião para a quinta-feira (7) com produtores e distribuidores de etanol para discutir mais uma vez como lidar com o cenário apertado de oferta do biocombustível no país, informou uma fonte do governo nesta quarta-feira (6).
Deve entrar em discussão também uma eventual mudança na mistura de etanol anidro na gasolina, atualmente em 25%, mas que por lei pode ser reduzida para até 18%.
O receio do governo, segundo a fonte, é que uma eventual redução do volume de adição de anidro possa levar ao aumento de produção de hidratado – o álcool combustível -, consequentemente levando a uma queda do preço deste tipo de etanol no mercado e a um potencial aumento da demanda pelos donos de carros flex.
“A preocupação principal evidentemente é o anidro, apesar de ter que cuidar do hidratado, porque se faltar hidratado tem que compensar com mais anidro”, afirmou a fonte, fazendo referência ao fato de uma eventual escassez de hidratado levar a um maior consumo de gasolina, e indiretamente a maior consumo de anidro, devido à mistura.
“Temos uma grande preocupação com o volume de anidro, se o produtor vai conseguir ofertar todo o anidro que o mercado precisa”, explicou.
Outra preocupação é o aumento do volume necessário de gasolina no mercado caso a adição de anidro caia, o que até poderia levar a novas importações do combustível, afetando a balança comercial brasileira e o balanço da Petrobras.
“O mercado está muito apertado, é a mesma produção de etanol do ano passado e até um pouco menos. Enquanto isso, a frota de flex só cresce, e a demanda de gasolina e álcool está crescendo à taxa de 7%”, ressaltou a fonte.
O impasse sobre a questão da mistura está na pauta do governo desde que os preços do etanol dispararam no mercado no início de 2011, como sempre ocorre, mas que neste ano e em 2010 o problema recebeu o agravante de uma oferta também apertada de gasolina, o que obrigou a Petrobras a importar o produto.
“Vamos estudar o quanto o mercado está com problema e se é produtivo ou não a mudança do percentual (na mistura)”, acrescentou a fonte governamental.
De acordo com Arnaldo Corrêa, gestor de riscos e diretor da Archer Consulting, empresa focada em negócios de commodities agrícolas, dificilmente o total de moagem de cana ficará próximo dos 560 milhões de toneladas originalmente previstos pelo setor no início da safra.
Estimativas da Archer Consulting indicam que o número de produção da safra deverá ficar em torno de 535 milhões de toneladas.
“O que vai certamente aumentar a preocupação do pessoal do governo, que esperava ver equacionado o problema de oferta do etanol”, afirmou Corrêa.
Para ele, uma possível solução seria liberar efetivamente o mercado de combustíveis no Brasil.
“Esse é ainda o principal entrave para que o etanol se torne, de fato, uma commodity, uma vez que no Brasil o preço do etanol é equiparado ao da gasolina que, por sua vez, é indiretamente determinado pelo governo”, explicou o consultor, alertando que por isso há falta de segurança para o produtor aumentar a produção.
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